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Mãe Africa engravidou em Angola
Partiu de Luanda e de Benguela
Chegou e pariu a Capoeira
No chão do Brasil verde-amarela!
(Paulo César Pinheiro)
Mas até onde vai essa afirmação? De onde vem essa crença ou essa verdade?
Ora pois-pois, diriam os portugueses: é quase óbvio isso!!
As formas com que sentimos a generosidade da capoeira é extensiva!
Desde os primeiros contatos, um iniciante já se sente impulsionado por um magnetismo irresistível!
Alguns fogem de restrições dos pais e vão de maneira oculta para os treinos.
Outros tem que se desdobrar para se livrar de outros compromissos ou simplesmente conciliar seus afazeres com a prática da capoeira.
Mesmo depois de anos praticando capoeira e já formado, somos movidos por um comichão de prazer e de incitação que nos arrasta para nossos treinamentos e, principalmente, para as rodas de capoeira.
Ela produz em nós, capoeiristas e mesmo alguém que simplesmente assista uma roda ou um bom treino, um tipo de endorfina! Um prazer que não é só o mesmo que todas as atividades físicas possam produzir. Tem algo mais.
Esse algo mais é espírito libertário que libera nossas amarras e nos faz voar em nossa imaginação e emoções...
A música - principalmente a de raiz, tocada e cantada de forma ritual e com o respeito as ancestralidades nela contidas - é de uma força e energias tão intensas que ninguem fica impune!
Já tive oportunidade de conversar e ser entrevistado por uma pesquisadora de uma universidade francesa, L'Ecole de France, que estudava a música e os aspectos terapêuticos dela, onde a mesma buscava a dimensão em que a música pode alterar nossos estados de consciência e, para estudo de caso, ela decidiu estudar a musicalidade da capoeira. Ficou extasiada com o que conheceu!
Infelizmente no Brasil ainda não tivemos estudos dessa natureza, já que ajudariam a tirar o carma da discriminação que sempre rondou a capoeira e a nossa cultura popular em geral. Reconheço que não posso comprovar que esses estudos não existam. Apenas afirmo que não os conheço!
De onde, afinal, vem essa tão importante energia e essa fonte de prazer que parece inesgotável?
Vem, como tantas outras, de nosso Continente Africano. Ninguém duvida!!
Essa mesme energia nos torna o que somos: um povo distinto em sua índole que, embora pobre materialmente e infestado de tanta moléstia de caráter (provavelmente importada da influência branca, européia e ocidental, de onde vem toda a lógica da competição, da ambição e de todos os pecados capitais!), nosso povo é rico de festass, de amor e de alegrias em tantas embalagens!
E a capoeira é onde deságuam tantas fontes dessa alegria, dessa felicidade de existir, dessa explosão constante de catarzes coletivas, onde a amizade permeia e a harmonia percorre os mais remotos sítios humanos de todas as línguas.
Sempre temos onde menos se espera um coletivo de pessoas se entendendo na linguagem da capoeira.
Essa generosa expansão nunca teve fim.
O Mestre Pastinha, já dizia: o seu fim é inconcebível ao mais sábio dos Mestres! se referindo à uma possível fronteira onda a Capoeira poderia chegar...
TIPOLOGIAS DE RELAÇÕES COM A CAPOEIRA (por enquanto!)
Cada um de nós consegue enxergar a capoeira até onde nossa competência e conhecimento permite. Mas os diversos estilos de capoeira não podem ser contidos em definições simplistas!
Quem tiver essa intenção vai ter um grande desafio.
Antes e principalmente os capoeiristas se agrupam nas práticas corporais da capoeira.
Essa linha de exploração de seu potencial foi sempre um dos mais populares. Mas é só uma delas.
Tem uma vertente cultural forte e extensa dentro da capoeira: sua música, teatro, shows (de teatro e de rua), instrumentação (temos capoeiristas que se tornaram grandes músicos, inclusive em Brasília), criação musical, a construção de instrumentos como atabaques, pandeiros, agogôs, reco-recos, etc.
Outras formas de relacionamento dos capoeiristas com sua arte envolvem a produção de eventos. Isso envolve uma dimensão da produção de projetos, de peças de divulgação como cartazes, vinhetas para rádios e tv, negociação com patrocinadores e órgãos governamentais, pais e comunidade.
Mas não para aí! A capoeira tem uma linha de pesquisa que a explora em diversas disciplinas, em todos os níveis da educação, desde livros para crianças, revistas, dicionários, até contos e romances capoeirísticos, chegando-se a universidades onde se pesquisa a capoeira em Antropologia, História, Política, Sociologia, Arte, Música, Matemática (acredite!!) e muitos outros.
Em outra perspectiva, encontramos a relação institucional. A parte burocrática dos grupos, de federações, confederações, ligas, programas em rádio, televisão e internet.
Estou apenas ilustrando isso!!
QUANDO A MÃE CAPOEIRA FICA BRAVA!
A capoeira, como toda e qualquer outra atividade humana, traz espaço para a dissonância.
Algumas pessoas sentem a força da capoeira pulsando em suas veias e resolve tornar isso um mecanismo de promoção pessoal. Fica magnetizado pelo poder que ela lhe traz. Aí isso vira uma patologia social.
Outra forma de dissonância é a exacerbação do EGO. Essa coisa estranha que afeta o ser humano quase que inevitavelmente... a questão é quando isso vira uma patologia descontrolada.
Ver artigo sobre o EGO neste blog no link abaixo:
Ego na Capoeira - ego, esse miserável!!!
Outra patologia que estamos enfrentando neste momento em grande intensidade é a tentativa de manipular a capoeira em benefício próprio, institucionalmente!!!
Essa veia patológica é uma perigosa tentativa de se criar mecanismos de apropriação da capoeira, seja por meio de uma exploração comercial despudorada, seja pela tentativa de usurpação da arte, como uma espécie de federacionismo compulsório. Que tenta obrigar as pessoas a se filiarem a entidades federalizadas que se incluem burocraticamente no sistema desportivo nacional e internacional e busca, como está acontecendo agora, com a tentativa de aprovar leis que nos subjugariam a essas entidades nefastas, normalmente desorganizadas, corrompidas em suas estruturas, cheias de conflitos internos e disputas sem a menor ética entre os líderes!
A essas patologias todas sofrem uma reação muito forte contra ela, que brota dos terreiros da capoeira de forma espontânea e informalmente organizada, criando nos capoeiristas uma rejeição sem trégua!
Os que tentam essa forma de usar a capoeira, sofrem na pele a consequência de suas ações, afinal, todos nós capoeirista sabemos:
A capoeira te dá muito, mas ela cobra de volta...
De volta ela quer sua dignidade... sua moral... seu respeito às suas raízes... seu respeito à ancestralidade...
Sem isso, somos capoeiras incompletos!
Sem humildade, somos apenas seres humanos em um processo de aprendizado, sem querer aprender!!
Yêh, vamu s'imbora, camará!!!
Boa explanação mestre bom de ler e entender
ResponderExcluirMestre este texto tem viés formativo e educativo esplendoroso. Aguardo momento da publicação do livro com a reunião dos textos que o ser está produzindo. Toinho/ACCEB-PI
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