sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Debatendo a capoeira na Escola... ou na educação?


Não pude deixar de me envolver nesse tópico aqui, a questão da capoeira na escola...

Esse tema eu venho trabalhando nele, estudando o assunto, fazendo ou acompanhando alguns projetos, enfim, circulando dentro do tema, desde muitos anos...

O assunto é recorrente, vai e volta, e anda em circulos o tempo todo...!

Sempre que vejo esse debate ele está focado na divisão que existe entre o Mestre/Professor de Capoeira & o professor da educação formal, ou seja os professores de outras disciplinas, já tradicionais nas escolas.

Os debates se dão por conta do que seria privilégio dos Professores detendo condições financeiras melhores que os mestres de capoeira por um lado; ou por outro o fator da capoeira na educação... sim ou não...? Deve o mestre de capoeira fazer parte das disciplinas que são ensinadas na escola? e por que ele precisa de diplomas superiores, se o saber da capoeira fala por si, pois seus aprendizados vão muito além dos cursos superiores universitarios, que duram 4 ou 5 anos quando muito?

Dificil é a gente assumir uma atitude isenta e lógica, encontrar posturas e percepções que sejam validas tanto para a Escola, enquanto uma instituição e para a capoeira, enquanto outra Instituição com regras, ética, critérios, etc., tão densos ou justos e consagrados como aqueles da escola...

Será que podemos, com total legitimidade entrar nesse diálogo?

Tive o privilégio de debater esse assunto diretamente dentro de um curso superior, em nível de pós-graduação, realizado na Universidade de Brasilia, quando recebi o título de Pós-Graduação Latu-Sensu em Educação Física, com Especialização em Capoeira na Escola, exatamente o tema aqui debatido, se não me falha a compreensão.

Grande coisa, muitos de nós poderão me dizer... e terei que aceitar... pois os meus 36 anos envolvidos com a capoeira, me ensinaram muito mais do que os dois anos que entrei nesse curso e dialoguei com professores universitários da área de educação fisica, a maioria deles com mestrado e doutorado academicos.

A questão, camaradas, se me permitem tentar mostrar uma outra visão ainda fora do contexto em que os debatedores aqui se postam, que é a coisa pragmática, o dia-dia desse entendimento, os projetos acontecendo, as diferenças de salários, os critérios, as questões e as posturas obviamente distintas, entre os mestres/professores de capoeira e um silêncio sepulcral do lado oficial da Educação...!!

Cadê uma manifestação do Ministério da Educação sobre isso??

Quem se envolveu com a capoeira até agora, pelo menos no Governo Lula - que foi com absoluta clareza o que mais deu espaço para a capoeira dentro do Governo Federal até hoje -, foram os ministérios do Esporte, da Cultura e órgãos como a Fundação Palmares e o IPHAN ambos do Ministério da Cultura...

Ou seja, o problema vem de uma raíz distante que ninguém discute! Qual é a posição do Ministério da Educação em relação à capoeira...??

O que acontece na realidade das escolas é óbvio para todos nós: praticamente TODAS as escolas deste País (e mundo afora não é diferente) possui algum projeto de capoeira... Sendo que a maioria deles tem a capoeira como atvidade Extra-Classe ou seja, não faz parte da Educação!

Está fora das salas de aula!...

Não podemos mais nos confundir quanto isso, pela amor de Deus!

Ou entramos nas salas de aula, junto com a matemática, a geografia, o português, etc., e temos lá uma disciplina chamada Capoeira, ou vamos sim continuar ocupando os pátios, ginásios, salas em horários vazios, etc., com aulas e eventos de capoeira, sendo que essa segunda coisa não tem diferença nenhuma da capoeira que ensinamos em nossas academias, projetos, espaços, quadras, condomínios, associações diversas, clubes, seja lá qual for o tipo de espaço! Nós inclusive dizemos isso: ah, consegui um espaço para dar aulas na escola da minha cidade!

Gente, esse divisor de águas tem que se universalizar...! temos que discutir essas duas coisas como coisas diferentes... não tem jeito!!

Ninguém gostaria que seu filho tivesse aula de capoeira com alguns tipos de correntes filosóficas que existem hoje (e sempre existiram) na capoeira...! Algum mestre de capoeira não faria questão de saber quem é o professor de capoeira de seu filho na escola?? Será que eles (nós) damos a mesma abordagem quando se trata de matemática, biologia, ou qualquer outra matéria? Saber quem são os professores dessas matérias, de onde se formaram, qual foi a escola deles, etc... Claro que não damos!

A gente ia querer que nossos filhos tivessem aulas de capoeira na escola - na sala de aula, diga-se - por alguém que fosse devidamente habilitado, submetido a critérios morais, que fosse muito bem fundamentado em seus ensinamentos, que nunca tivesse se envolvido em brigas, conflites de grupos, que nunca tivesse assediado as mulheres dentro de suas aulas, etc...

Por que então a gente quando discute esse assunto, trata da escola apenas como um espaço a mais, tal qual uma academia, clube, associação, etc....? é a mesma coisa? claro que não!

A capoeira quando vier a fazer parte do portfólio de disciplinas das escolas de educação formal, terá sim que estar devidamente preparada para isso!!

Qualquer um de nós, mestres, professores, graduados em capoeira, sabe fazer essa exigência...

Por que não conseguimos ver esse divisor de água e nos posicionamos por ele? Porque a maioria das vezes que estamos discutindo esse assunto a gente esta fazendo isso como parte de um conjunto de interesses que temos! Simples.

Ah e qual será a maneira adequada então de debater ou de definir essa questão?

A gente tem que ser antes de mais nada honestos com nossa própria limitação e nossas expectativas pessoais... vamos assumir que temos sempre ao lado de nossas posições assumidas os interesses pessoais também...!

Se a gente fizer isso, vamos começar a distinguir que estou aqui debatendo porque quero subsídios, projetos, conhecimentos, apoios, politicas públicas, etc., para um certo tipo de projeto que eu estou pleiteando, trabalhando ou defendendo.

Mas quando se tratar da educação formal, por exemplo, aí talvez seja melhor a gente debater isso primeiramente junto ao Ministério da Educação... vamos abrir um espaço de aproximação com esse Minístério e vamos levar para esse fórum as pessoas que estejam preparadas para esse debate, diferentemente daquelas que apenas querem o espaço da escola para dar suas aulas de capoeira, seguindo seus fundamentos, sua escola tradicional, seu grupo, seu mestre, sua filosofia de capoeira, sua linhagem, etc... são assuntos diferentes...

Mas, não adianta negar, nós somos sempre partidários de coisas e soluções que nos interesse e muito raramente pensamos na capoeira como algo verdadeiramente maior do que nossos proprios limites e interesses...

Se a gente pensasse assim, de forma isenta e assumisse nossa postura de defensores da capoeira independemente de nossos proprios interesses, a gente não estaria desenvolvendo ao mesmo tempo infinitos projetos e espaços de debates isolados, quase sempre montados e articulados para atender o nosso grupo, seja qual for o sentido que grupo tenha aqui...

Assisti a n momentos em que nós capoeiristas nos reunimos para discutir soluções para a Capoeira e as decisões inevitavelmente atendem ao grupo que está debatendo... quem quiser que monte o seu debate... a gente diz. Ou pensa.

Minha conclusão é de que a capoeira para se tornar um assunto educacional para todas as escolas, todos os níveis, todas as idades, em todos os recantos desse país é que ela talvez possa ser sim beneficiada com a Lei 10.639, tal e qual qualquer outra cultura de origem afro-descendente desde que ela seja tratada como Conteúdo na educação formal, alimentando assim o saber de nosso povo em geral (e não os espaços ocupados por grupos), dando oportunidade a quem produz esses conhecimentos, aí sim todos os que vivem ou professam a capoeira e podem ensina-la no todo ou por partes, incrementando, obviamente as escolas de capoeira com novos alunos, pois a escola ensina música, mas quem vende discos são as lojas de disco, e quem os prepara são os cantores, produtores, arranjadores, gráficas, músicos, fabricantes de instrumentos, enfim, uma rede enorme de pessoas se beneficiam do fato de que a música seja ensinada nas escolas enquanto teoria...

Por que não podemos ter essa mesma visão para a capoeira?

A pessoa que der por exemplo, aula de geometria (já houve esse caso!) pode se utilizar da capoeira para ensinar com seus movimentos como se constrói um arco (berimbau) um círculo (a roda) um compasso (meia-lua de compasso) etc.. O responsável pela Geografia, poderia ensinar que a capoeira fez parte do movimento quilombola no Brasil e que se espalhou pelos quilombos, nas regiões A, B e C... com os mais fortes sendo os que se instalaram na região de Palmares, por exemplo... A capoeira teve um fluxo de expansão seguindo dos Estados da Bahia, Rio e Recife em direção a... é um tema geográfico... pode ser discutido como parte da Geografia...! e quem vai dar esses informes esses conhecimentos?

Acredito que quem está mais em condições de faze-lo sejam os mestres de capoeira, pesquisadores que se orientaram pela capoeira para produzir seus estudos e projetos de pesquisa...

Praticamente todas as disciplinas que são dadas nas escolas podem ser enriquecidas com a Capoeira como parte de seus conteúdos e isso alimentará o saber sobre a capoeira e as escolas de capoeira, pois haverá muito mais pessoas querendo buscar a prática da capoeira, essa sim, nós somos os detentores e não podemos abrir mão pra ninguém de nenhuma outra corrente de conhecimento, professores de educação, de cultura popular, de folclores, seja lá do que for, tem que se contentar em obter com os capoeiristas o saber que irão repassar... e nós continuarems a ser o representantes reais e legais dessa arte da qual nos orgulhamos tanto.

Outras disciplinas podem também ter conteúdos extraídos e aprendidos com os capoeiras, entre elas a Sociologia, a Antropologia, a Arte, a Música, a História, a Economia, a Filosofia, e até arquitetura já vi produções fantasticas incluindo capoeira, a cultura africana, enfim, uma infinidade de conhecimentos que temos podem ser uteis para a educação, e qualquer um de nós que esteja habilitado a ser um professor de dentro da sala de aula, vai ser com certeza um Mestre que vai dar muita lição na Educação...!!

Enquanto isso, vamos aumentar nossos conhecimentos, nossa produção, incentivar nossos discipulos a estudarem, a buscarem suas formações, vamos incentivar nossa juventude capoeirista a ler, a produzir com a mente, mais do que com as pernas e em breve nós seremos um batalhão de capoeiristas corpo-e-mente...! Invencíveis...! principalmente na guerra pela sobrevivência nesse mundo cruelmente dividido entre os que sabem e os quem tem o diploma, que não é e nunca foi justo... Mas quem disse que o mundo é ou já foi algum dia justo??








A Faca de dois gumes do ego na Capoeira

"A capoeira é tudo que a boca come".


Mestre Pastinha



Há muitos e muitos anos ouço falar de um tal de Ego...
Ele está presente constantemente em quaisquer debates envolvendo a filosofia oriental - que me perdoem os filósofos sérios, pois sei que se for mencionada a palavra "filosofia" já se refere à grega...
Sempre engoli a seco essa palavra, pela importância que a ela é dada em tantas abordagens, em tantos pontos de vistas, em tantas disciplinas, que me pareceu sempre um exagero a importancia que se dá a ele, o Ego.
Só para ilustrar o que digo, entrei com a palvra "ego" no google.com agorinha e me vieram mais de 63 milhões de ocorrências!!
É muito mesmo grande o alcance e os dedobramentos que o tal ego assume perante a comunidade em geral e aos estudiosos da ética e do espírito humano em particular.
Para tentar reduzir um pouco esse tema, na busca no google, mesmo porque não estamos interessados apenas no uso da palavra no meio de quaisquer abordagem, mas sobretudo o ego enquanto um fenomeno relacionado com a reflexão sobre o caráter humano, ai a incidência baixou bastante, caindo para algo em torno de 2.8 milhões de ocorrencia, quando associado com a palavra "filosofia".
Já ajuda, mas, convenhamos é muita coisa pra se entender... muito mais do que humanamente é possível...
Afinal, o que nos interessa aqui é o ego enquanto uma reflexão dentro da capoeira...
A associação ego & capoeira reduz esse universo para menos de 300 mil ocorrencias.
Mas ainda é muito, com toda clareza!
A questão é: o que estamos buscando? Por que interessa saber o que está no google em relação a isso...
Explico então: estamos buscando saber se esse assunto é objeto de alguma produção especifica dentro da capoeira e a resposta é simples e direta: não. Não temos isso.
Como tantas outras carências, a capoeira carece de uma reflexão suficientemente convincente que analise as dimensões do ego em sua prática e, acreditem, é impressionamente grande a presença de fragmentos egóicos dentro da capoeira...!
Fascinante pelo lado da riqueza das manifestões que temos de nossas visões egoísticas e egocêntricas, além de egóico latu sensu, a capoeira vive de buscar a fixação de cada no curso histórico da vida de nossa arte!
Delirantemente atraente a idéia de inscrever seu nome - ou apelido - na história da nossa arte, o capoeira se leva por um mar de possibilidade que a capoeira abriga e se atira de sapatos na correnteza dessas possibilidades...!!
Já tenho visto coisas incríveis que fazemos (me incluo no meio desses atores por uma questão de coerência...), as sutilezas envolvidas nas nossas tramas sub-conscientes ou conscientes para firmar o nosso nome no panteão dos grandes capoeiras da História.
É muito comum os mais ou menos novatos no terreno da produção da capoeira se encherem de razão para tentar discutir as questões e as soluções para a capoeira.
Todos pensamos e queremos ser construtores de saidas para a Capoeira, o que é uma coisa maravilhosa de nossa arte, e vemos sempre o capoeirista abrindo os botões de suas camisas onde está escrito em letras sempre elegantes: super-capoeira!
A maioria age segundo seu subconsciente...!
Mas está aí! O nosso ego é um desafio para nós, ou como já diziam os grandes mestres orientais do Taoismo, do Budismo, é o nosso poderoso e mais importante inimigo inicialmente. Mesmo porque na maioria das vezes sequer sabemos que o estamos enfrentando... só muito mais tarde percebemos que agimos tantas vezes sob essa ótica, sob essa influência, sob essa orientação...!
Observem que não existe uma critica dura a respeito disso...! O que faço são reflexões ao sabor da gratuidade de meus insights de capoeirista, para tentar contribuir (na minha pretensão naturalmente egóica também... rs) com o seu crescimento e com a maior compreensão dos fenômenos psíquico-sociais que trazemos dentro dessa arte magnifíca que tanto tem contribuido para tantos de nós se desenvolverm nas suas competencias humanas, artisticas, crítico-reflexiva e auto-emancipadora, como se denominam as artes marciais orientais, o caminho...!
Mas por que isso tem dois gumes...?
Porque em primeiro lugar é um mal necessário - se puder ser considerado um mal... Pois no início do aprendizado da capoeira temos que romper com nossas inseguras, nossas incertezas, nossas limitações, nossos medos... Ai temos que alimentar dentro de nós uma coragem nova, uma forma de enfrentar as coisas sem maiores medos... precisamos aumentar nossa auto-estima e superar nossos limites. Isso representa a liberação de algum modo de nosso Ego, até então uma visão simplista de auto-superação...
E depois, quando já obtivemos coragem suficiente, auto-estima suficiente, crescimento suficiente, auto-controle suficiente, entra em cena um fenômeno tão perigoso como a serpente do paraíso: o poder e a competição que existe por ele!
A partir daí nossa verdadeira opção consciente se torna irrelevante e nosso subconsciente nos empurra para a fotografia ao lado do Rei, seja lá quem for o rei imaginário... um mestre famoso... o nosso próprio mestre... uma imagem para ir pra televisão... uma foto fazendo firula, acrobacia ou pose de forte dando um super chute... essas possibilidades são infinitas e muito pouco provavel que alguem as enumere todas. A intenção aqui é apenas ilustrar o assunto e a atitude que começamos a tomar.
Mas não tem limite esse fenômeno e essa vontade de seguir o curso do nosso crescimento... A ambição é um motor poderoso para o crescimento pessoal... A capoeira fomenta e alimenta esse processo... o tempo todo!
Neste ponto alguem pode questionar: mas e aí, não temos que crescer? e do auto de minha ignorância assumida respondo: sim... invariavelmente o ser humano quer e até precisa crescer, senão ele será sempre um ser vivendo em seus instintos animais, tão precário quanto qualquer outro bicho!
Mas isso seria muito melhor se não representasse a nossa perigosa sombra das vontades de nosso EGO, esse inimigo sutil e manipulador de nossas atitudes.
Mas vamos continuar mais esse tema depois...
Essa é apenas uma introdução.
Me desculpem se deixei uma expectativa não correspondida de concluir o tema, mas acreditem, há tanto desse assunto que poderia encher muitos livros, por isso vamos com calma...
Yêh, volta do mundo, camará!!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O filho de Xangô, Mestre Tabosa, lança seu livro


Agora muito mais pessoas poderão conhecer esse fenômeno chamado Helio Tabosa de Moraes, mais conhecido como Mestre Tabosa...

Eis que o Mestre resolveu nos brindar com seu livro que, aliás, tal qual o autor, é cheio de surpresas e de uma diversidade enorme de assuntos e de informações, que com certeza preenchem uma triste lacuna que tínhamos, quanto ao registro da vida e obra deste ícone da capoeira e da História do Distrito Federal, seja pela perspectiva da capoeira, da arte em geral e de tudo que diga respeito à identidade que essa cidade já produziu.

Mestre Tabosa representa essa fascinante cultura que Brasilia hoje consagra, que abrange muito mais do que grandes ídolos globalizados em novelas ou no teatro, mas que fixa sua marca no terreno da produção cotidiana, face a face com as pessoas, cidadãos aparentemente comuns e ao mesmo tempo ídolos inquestionáveis de toda uma geração pioneira, fundadora das bases da nossa urbus brasiliensis, que a cada dia deixa menos dúvida sobre a sua maioridade histórica, cultural e identitária.

Mestre Tabosa é uma dessas pessoas raras que a cada século nascem muito poucas! Suas habilidades de capoeirista já viraram lendas da cidade e da capoeira para todos os que tiveram o privilégio de ve-lo em suas performances capoeiristicas...

Dotado de muitas competências distintas, Hélio Tabosa é polivalente de uma maneira muito ampla no que diz respeito aos seus conhecimentos e produções na capoeira.

Foi ele sem dúvida através da Academia Tabosa que promoveu a estação primeira da capoeira em nossa cidade, tornando-se rapidamente o elo de ligação com todo o cosmo capoeirístico mundo afora...

Em 1993, numa viagem a Portugal, adquiri um CD de músicas de Capoeira gravado nos Estados Unidos da America, onde uma música percorriu os diversos Estados do Brasil, mencionando dentro da sua letra os mestres consegrados de cada um desses locais.

Ouvindo bem a letra, na época muito raros os CDs de capoeira, vi que o autor da música, Mestre Deraldo, que vivia na cidade de Boston, Machachussets (tomara que o nome seja assim!), quando diz "axé Brasília, Mestre Tabosa!" me reporta a uma pergunta que tempos depois fiz ao Mestre, levando pra ele uma copia em fita K7 (coisa antiga já, né??!), pois naquele tempo era muito caro fazer-se uma copia de CD: voce conhece esse Mestre aqui, Tabosa? Conheço não!, respondeu o Mestre...

Nesse tempo, Tabosa já estava dividido entre muitos outros assuntos na sua relação com o esporte em sua academia e em diversas outras coisas que fazia. Mas seu nome já havia se consagrado como capoeirista e como mestre de capoeira, nome de Brasilia nos quatro cantos do mundo e da capoeira que por esses cantos se espalhava com a força de um vendaval, ao som dos berimbaus de capoeiristas de diversos Estados brasileiros, em particular Bahia, naturalmente; Rio de Janeiro; São Paulo e de alguns outros lugares em menor escala...

O Mestre Deraldo, por exemplo, é de uma linhagem de capoeira de Santos, do Mestre Sombra de Santos, fundador do Grupo Senzala de Santos, que já havia iniciado o trabalho no exterior através de diversos alunos seus. E ali já se achava o nome do Mestre Tabosa...

O tempo passou. Sempre acontece isso... Mas nada mudou em relação ao nome e a representatividade que Hélio Tabosa traz em sua marca registrada e em sua História de vida. E isso se confunde sempre com a história de Brasilia e da capoeira em geral!

Falar por onde começou a acontecer capoeira em Brasilia, onde tantas coisas se deram, como aulas em salas de escolas publicas; mulheres e homens em turmas mistas fazendo capoeira; treinamento localizado dentro da aula de capoeira, movimentos lindissimos de uma capoeira pura e leve como o vento, tudo isso teve nomes de Brasilia associado e o sobrenome Tabosa estava junto!!

O mais importante evento do início da segunda metade do século XX aconteceu no Rio de Janeiro, o Festival Berimbau de Ouro de Capoeira, surge ali o conceito que se expandiu por todos os rumos por onde andou os ventos da transformação da capoeira em grupos... os grupos assumiram a capoeira. Até então tinha outros nomes, as escolas, os mestres, as linhagens, as divisões de angola e regional, etc., mas o conceito de "grupo" surge ali, com o Grupo Senzala e com ele a inclusão de nomes de Brasilia dentro desse contexto!

Brasilia ganhou a mesma notoriedade que o grupo ganhador do Berimbau de Ouro (na verdade os tres anos que tiveram o concurso). Mas não participou apenas como convidados. Foram decisivas as participações de nossos capoeiristas ali: Tabosa, Cláudio Danadinho, Fritz e Adilson, não eram apenas convidados. Fizeram diferença! Criaram um bloco concorrendo junto com o Grupo Senzala que tornou-se grande parceiro e isso trouxe uma verdadeira revolução para a capoeira desde então.

Parte dessa (r)evolução Brasília desprezou e particularmente o Mestre Tabosa sempre foi contra, que foi a "filiação" de grupos e pessoas de outros lugares ao grupo-matriz, criando assim uma verdadeira indústria dentro da capoeira e expandindo-se em verdadeiras instituições globalizadas em muitos paises, sob a grife daquele grupo ou daquele mestre.

Mestre Tabosa abraçou um fundamento legado pelo seu próprio Mestre, o Mestre Arraia, que era o ensinamento direto, olho no olho, ginga com ginga, como forma de ensinar a capoeira. Ele passou então a ser um combativo crítico das patologias que se seguiram dentro e fora das rodas de capoeira, a violência em primeiro plano e em menor impacto a perda de identidade, o desprezo por tradições fundamentais, particularmente o jogo sem jogo, onde a distancia foi aumentando entre os capoeiristas, deixando a capoeira de ser um diálogo para ser um monólogo simultâneo de dois jogadores. A violência passa a substituir a eficiência, em que Tabosa sempre foi um Mestre!

Aí ele se torna um expectador. Um crítico na roda maior da capoeira, que é a própria vida de todos os seus pares, fora das rodas de jogo, mas inexpugnavelmente dentro das verdadeiras rodas de capoeira de Brasilia. Um observador atento e um Conselheiro para quem o procurasse, sempre equilibrado e sempre demonstrando que a sua Mestria não era de pernas somente, braços e golpes, era e sempre será de um grande líder,que agrega, coordena, une, pondera, e tem sempre propostas sensatas e novas alternativas onde as crises se instalam...

Tabosa se torna referência em outras modalidades de esporte, como no triatlon, na localizada e em outras formas de produção artística e cultural, como no cinema, na música, nas iniciativas governamentais como braço forte e sempre conciliador entre todas as forças e interesses, dentro de um ambiente quase sempre envoltos em nuvens de discórdias, de competição, de jogos sutis ou declarados pela obtenção de destaques ou de privilégios... Tabosa sempre foi um justo e imparcial juiz diante dos conflitos que sempre existiram e sempre existirão na capoeira, enquanto ela for praticada por seres humanos normais, como todos nós!

No seu livro, que é o grande mote deste nosso blogspot, ele além de contar diversas Histórias e estórias acerca da capoeira no DF e em eventos Brasil afora, ele incursiona na História da Afracanidade e da escravidão e mais uma vez é um Mestre que dá lição!

Depoimentos emocionados o exaltam e o consagram.

Fotos que marcaram época na História da capoeira vem de quebra no livro, que se torna assim uma quase enciclopédica epopéia capoeiristica, que ninguém envolvido com a capoeira ou interessando na cultura em geral pode deixar de ter.

Mestre Tabosa É Brasilia. Brasília É Mestre Tabosa...

Ah, e uma ultima coisa, antes de apresentar alguns de seus marcos históricos, não posso deixar de dizer e de registrar, por interesse próprio, que me perdoem os que consideram isso uma atitude interesseira ou não isenta minha: Hélio Tabosa, o Mestre Tabosa, é e sempre será o meu Mestre na Capoeira!



Saiba um pouco sobre o Mestre Tabosa

Hélio Tabosade Moraes, advogado, mais conhecido como Mestre Tabosa, iniciou sua vida profissional como bancário, mas abandonou para ser autônomo,
seguindo sua profissão de talento e coração, a educação.

Estudou várias artes marciais como judô, sumô e esgrima .
Formou os melhores mestres de capoeira e os melhores professores de ginástica de Brasília.
Sua trajetória abrangeu também a ginástica estética que ele chama de “ginástica localizada brasileira” um diferencial na área esportiva, notoriamente conhecida em Brasília.

Em 1964 ingressou na capoeira.
Em 1965 implantou a capoeira na UnB. Em 1967, 1968 e 1969 recebeu, junto com o Grupo Senzala - RJ, o Berimbau de Ouro, a maior honraria de um mestre de capoeira, até hoje talvez não superado ainda.

capoeira; participou como técnico no “Campeonato Brasileiro” realizado em São Paulo.

Em 1978 apresentou aula sobre a capoeira na Escola Aliança Francesa.
Em 1981 recebeu a faixa preta do 1º DAN, de judô.

Em 1983 completou em 10º lugar o “I Triátlon” no Rio de Janeiro; participou da “Meia-Maratona” Bradesco/Correio Braziliense/GDF-DF-DEFER e mais duas “Maratonas” no Rio de Janeiro.

Em 1984 participou do curso do “Ginástica Estética de Academia” do Governo do Distrito Federal, Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação.

Em 1987 participou do “Short Triátlon Brasiliense”. A partir de 1988, coordenou várias edições dos JEB (Jogos Escolares Brasileiros) na área da capoeira.

Em 1990 coordenou o 1º Projeto “Jogos Abertos de Brasília de Capoeira”. Atuou como técnico dos primeiros campeonatos da Confederação Brasileira e proferiu palestras sobre a capoeira; aplicou vivência de capoeira na Fundação Cidade da Paz; participou do “Encontro Mundial do Meio Ambiente e os 500 Anos do Descobrimento da América”.

Em 1991 foi jurado no “II Jogos Abertos” do DF; formou a 1ª Mestre de Capoeira mulher.

Em 1992 participou de diversos simpósios de capoeira; colaborou nas “Diretrizes da Capoeira no Brasil”; representou o Brasil no “Encontro Mundial de Artes Marciais”
na Alemanha; foi palestrante do “GEISPORT”; apresentou, de sua autoria, o regulamento que regeu os JEB de capoeira, “Roda de Capoeira Competitiva”;
proferiu palestra para professores do “Programa Escola Comunidade de Ginástica nas Quadras”; manifestou-se pelo resgate da capoeira.

Em 1993 declarou-se contra o clímax da brutalidade entre gangues de Brasília; participou da “Jornada Contra a Violência”,
convidado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal; apresentou uma aula sobre a capoeira na “Faculdade de Artes Dulcina de Moraes”.

Em 1997 recebeu, da “Federação de Capoeira do Distrito Federal”, o diploma de honra ao mérito de “Pioneiro na Divulgação da Capoeira no Distrito Federal”.

Em 1996 participou da gravação do CD “Tantas Canções” de Muriel Tabb e Paulo André Tavares;

em 1997 participou do filme “O sonho não acabou” com Lucélia Santos e contracenou com Miguel Falabela e do filme “No Coração dos Deuses” da Aquarela Produções Culturais - um filme de Geraldo Moraes - roteiro longa-metragem sobre a saga dos Bandeirantes. Participou do 114º Aniversário do Sonho-Visão de Dom Bosco com a peça “Brasília Paralelo 15”;

em 2002, Tabosa gravou canções de sua autoria no CD da cantora Muriel Tabb, intitulado “Olhos d´água”.

Hélio Tabosa dividiu o palco com Muriel Tabb e Tico de Moraes, mais de uma vez, na Sala Cássia Eller - FUNARTE, nas salas Villa Lobos e Martins Penna, do Teatro Nacional, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília e na Livraria Cultura.

E no apagar das luzes de 2009, somos surpreendidos com essa matéria:

MESTRE TABOSA

Voto de Aplauso foi requerido também, pelo senador Arthur Virgílio, para Hélio Tabosa de Moraes, pela publicação do livro O Filho de Xangô, a respeito da história e prática da capoeira no Brasil.

"Mestre Tabosa, como é conhecido – disse o senador – é figura das mais representativas na área da capoeira. Estudou várias artes marciais, como judô, sumô e esgrima e formou os melhores mestres de capoeira e os melhores professores de ginástica de Brasília. Foi também o responsável pela implantação do ensino da capoeira na Universidade de Brasília (UnB)."

É somente um pouco a respeito de Mestre Tabosa.

Para saber mais, leia o livro...!!