"A capoeira é tudo que a boca come".
Mestre Pastinha
Há muitos e muitos anos ouço falar de um tal de Ego...
Ele está presente constantemente em quaisquer debates envolvendo a filosofia oriental - que me perdoem os filósofos sérios, pois sei que se for mencionada a palavra "filosofia" já se refere à grega...
Sempre engoli a seco essa palavra, pela importância que a ela é dada em tantas abordagens, em tantos pontos de vistas, em tantas disciplinas, que me pareceu sempre um exagero a importancia que se dá a ele, o Ego.
Só para ilustrar o que digo, entrei com a palvra "ego" no google.com agorinha e me vieram mais de 63 milhões de ocorrências!!
É muito mesmo grande o alcance e os dedobramentos que o tal ego assume perante a comunidade em geral e aos estudiosos da ética e do espírito humano em particular.
Para tentar reduzir um pouco esse tema, na busca no google, mesmo porque não estamos interessados apenas no uso da palavra no meio de quaisquer abordagem, mas sobretudo o ego enquanto um fenomeno relacionado com a reflexão sobre o caráter humano, ai a incidência baixou bastante, caindo para algo em torno de 2.8 milhões de ocorrencia, quando associado com a palavra "filosofia".
Já ajuda, mas, convenhamos é muita coisa pra se entender... muito mais do que humanamente é possível...
Afinal, o que nos interessa aqui é o ego enquanto uma reflexão dentro da capoeira...
A associação ego & capoeira reduz esse universo para menos de 300 mil ocorrencias.
Mas ainda é muito, com toda clareza!
A questão é: o que estamos buscando? Por que interessa saber o que está no google em relação a isso...
Explico então: estamos buscando saber se esse assunto é objeto de alguma produção especifica dentro da capoeira e a resposta é simples e direta: não. Não temos isso.
Como tantas outras carências, a capoeira carece de uma reflexão suficientemente convincente que analise as dimensões do ego em sua prática e, acreditem, é impressionamente grande a presença de fragmentos egóicos dentro da capoeira...!
Fascinante pelo lado da riqueza das manifestões que temos de nossas visões egoísticas e egocêntricas, além de egóico latu sensu, a capoeira vive de buscar a fixação de cada no curso histórico da vida de nossa arte!
Delirantemente atraente a idéia de inscrever seu nome - ou apelido - na história da nossa arte, o capoeira se leva por um mar de possibilidade que a capoeira abriga e se atira de sapatos na correnteza dessas possibilidades...!!
Já tenho visto coisas incríveis que fazemos (me incluo no meio desses atores por uma questão de coerência...), as sutilezas envolvidas nas nossas tramas sub-conscientes ou conscientes para firmar o nosso nome no panteão dos grandes capoeiras da História.
É muito comum os mais ou menos novatos no terreno da produção da capoeira se encherem de razão para tentar discutir as questões e as soluções para a capoeira.
Todos pensamos e queremos ser construtores de saidas para a Capoeira, o que é uma coisa maravilhosa de nossa arte, e vemos sempre o capoeirista abrindo os botões de suas camisas onde está escrito em letras sempre elegantes: super-capoeira!
A maioria age segundo seu subconsciente...!
Mas está aí! O nosso ego é um desafio para nós, ou como já diziam os grandes mestres orientais do Taoismo, do Budismo, é o nosso poderoso e mais importante inimigo inicialmente. Mesmo porque na maioria das vezes sequer sabemos que o estamos enfrentando... só muito mais tarde percebemos que agimos tantas vezes sob essa ótica, sob essa influência, sob essa orientação...!
Observem que não existe uma critica dura a respeito disso...! O que faço são reflexões ao sabor da gratuidade de meus insights de capoeirista, para tentar contribuir (na minha pretensão naturalmente egóica também... rs) com o seu crescimento e com a maior compreensão dos fenômenos psíquico-sociais que trazemos dentro dessa arte magnifíca que tanto tem contribuido para tantos de nós se desenvolverm nas suas competencias humanas, artisticas, crítico-reflexiva e auto-emancipadora, como se denominam as artes marciais orientais, o caminho...!
Mas por que isso tem dois gumes...?
Porque em primeiro lugar é um mal necessário - se puder ser considerado um mal... Pois no início do aprendizado da capoeira temos que romper com nossas inseguras, nossas incertezas, nossas limitações, nossos medos... Ai temos que alimentar dentro de nós uma coragem nova, uma forma de enfrentar as coisas sem maiores medos... precisamos aumentar nossa auto-estima e superar nossos limites. Isso representa a liberação de algum modo de nosso Ego, até então uma visão simplista de auto-superação...
E depois, quando já obtivemos coragem suficiente, auto-estima suficiente, crescimento suficiente, auto-controle suficiente, entra em cena um fenômeno tão perigoso como a serpente do paraíso: o poder e a competição que existe por ele!
A partir daí nossa verdadeira opção consciente se torna irrelevante e nosso subconsciente nos empurra para a fotografia ao lado do Rei, seja lá quem for o rei imaginário... um mestre famoso... o nosso próprio mestre... uma imagem para ir pra televisão... uma foto fazendo firula, acrobacia ou pose de forte dando um super chute... essas possibilidades são infinitas e muito pouco provavel que alguem as enumere todas. A intenção aqui é apenas ilustrar o assunto e a atitude que começamos a tomar.
Mas não tem limite esse fenômeno e essa vontade de seguir o curso do nosso crescimento... A ambição é um motor poderoso para o crescimento pessoal... A capoeira fomenta e alimenta esse processo... o tempo todo!
Neste ponto alguem pode questionar: mas e aí, não temos que crescer? e do auto de minha ignorância assumida respondo: sim... invariavelmente o ser humano quer e até precisa crescer, senão ele será sempre um ser vivendo em seus instintos animais, tão precário quanto qualquer outro bicho!
Mas isso seria muito melhor se não representasse a nossa perigosa sombra das vontades de nosso EGO, esse inimigo sutil e manipulador de nossas atitudes.
Mas vamos continuar mais esse tema depois...
Essa é apenas uma introdução.
Me desculpem se deixei uma expectativa não correspondida de concluir o tema, mas acreditem, há tanto desse assunto que poderia encher muitos livros, por isso vamos com calma...
Yêh, volta do mundo, camará!!
Mestre, quando senhor fala que ego é um mal necessário (pode ser visto como um mal necessário) eu concordo. Tem muita gente boa falando que o ego limita o ser humano, mas ele pode ser o início da libertação. O nosso desenvolvimento passa por estágios por tempos incontáveis e o ego é e será - no sentido de passado - um ótima ferramenta.
ResponderExcluirMas já dá para o ser humano separar o joio e o trigo que tem no ego.
Salve Mestre
(Baratão) Daniel