Tivemos semana passada uma sessão inaugural do filme Besouro, Nasce um herói, dia 12 nov, no Museu Nacional de Brasilia, promovido pela Fundação Palmares, com a presença do Ministro da Cultura, Juca Ferreira, além de diversos atores e o diretor do filme.
A sessão do filme foi precedida por diversas matérias produzidas pela Fundação Palmares, versando sobre temas relacionados com as ações da cultura popular e em particular questões da cultura negra, diversas pequenas matérias, tratando das ações do MINC e da própria Palmares.
Antes da apresentação do filme, houve a fala do Ministro Juca e do Presidente da Palmares, que falavam rapidamente sobre a importância do filme para a atual busca da valorização da cultura negra, da política de diversidade do Governo Lula e em particular para a capoeira, já que o filme traz um dos maiores mitos de todos os tempos no mundo da capoeiragem...
Depois do filme, houve um debate com o diretor do filme e alguns dos principais atores do filme.
O debate, na verdade, terminou por ser um momento de longos esclarecimentos do diretor do filme, que praticamente dominou quase oitenta por cento do tempo da conversa.
Bastante empolgado, o diretor João Daniel Tikhomiroff, passou um impressão de estar muito satisfeito com o filme e com todos as críticas que tem recebido.
A expectativa de um grande sucesso no mercado de cinema nacional - e em seguida internacional - o João Daniel espera que os direitos do filme não tenham o mesmo fim de outros filmes brasileiros, que tiveram que ser vendidos para empresas estrangeiras, perdendo assim o seu lastro no circuito mundial... lamentavelmente esse tem sido o fim de muitas outras produções nossas, que depois de alçarem algum voo mundo afora, não tiveram como ser sustendada sua trajetória no exterior, redundando na venda de seu direito a empresas e grupos internacionais...
O filme em si, é uma fábula em torno do famoso capoeirista do recôncavo baiano, que virou o maior de todos os mitos da capoeira, tornando-se o mais famoso dos capoeiristas de todos os tempos...
Sem preocupações com as bases históricas que um documentário exigiria, o filme é um romance brasileiro em torno da trajetória de lutas contra a escravidão em uma de suas versões conhecidas, representada no caso, no poder absoluto dos senhores coronéis de fazendas e seus auxiliares, mais conhecidos no nordeste como jagunços...
Enquanto filme destinado ao público em geral, tanto agradou, quanto desagradou aos capoeiristas, divididos entre os que entendem que o filme devia ser mais fiel ao personagem, o que faria do mesmo um documentário, e não um romance, tanto quanto os que entendem que a parte de capoeira não foi fiel ao que seria a capoeira no contexto histórico em que o personagem viveu, pelas coisas modernas, movimentos, golpes, toques de berimbau, que a capoeira jogada no filme revela...
Para a felicidade geral da nação, o público em geral não tem a mínima idéia em relação a essas questões e o filme pode perfeitamente se tornar o primeiro grande sucesso de bilheteria de um filme versando sobre a capoeira e sobre a questão racial e escrava no Brasil...
Não somos muito bons em História do Brasil e por isso muito poucos de nós saberia discorrer sobre a realidade que se nos acercou nos anos que se seguiram à Lei Áurea, para ser honestos com a nossa memória nacional, mesmo nos anos muito mais recentes não temos claro o que se passou - ou ainda se passa - nas estruturas escravistas pós-modernas que ainda temos, quanto mais entender ou saber o que se passou no nosso mundo rural no inicio do século passado...
Isso tudo contribui para que o filme seja, de fato, uma oportunidade para muitos de nós refletirmos sobre a nossa dívida para com os afro-descendentes, negros escravos e seus descendentes, os modelos de relações que existiram durante anos a fio, que se seguiram ao fim da escravidão... Liberdade era e em alguns casos ainda é, uma ilusão didático-política que acabou por criar um outro mito entre nós, o mito da democracia racial...
Nós passamos a negar qualquer tipo de discriminação, de preconceito ou de racismo em nossas relações sociais.
Besouro como o continuador da luta política de seu mestre, busca plantar as sementes da resistência e da luta de classes no seio das relações trabalhistas dos anos 20 no secúlo XX nos rincões rurais do Brasil, usando para isso a capoeira, que no caso se torna um instrumento de luta guerrilheira, mesmo que o nosso herói lute sozinho, protegido pelos seus Orixás, trazendo em outro plano temático do filme, a liberdade religiosa, também vitima de tantas opressões, de tantas repressões e de tantos preconceitos...
Na verdade, indiscutivelmente, o filme Besouro, Nasce um Herói, se torna um novo motivo para tentar demonstrar aos investidores (no filme são mencionadas mais de uma dezena deles...). aos produtores, aos distribuidores de filmes no Brasil, e em ultima análise até mesmo ao grande público que frequenta e consome cinema no nosso País, que temos sim heróis no seio de nossa história não documentada do nosso povo e que temos sim, além da própria História oficial, muitas razões para desconfiarmos das versões enlatadas de nossa história conformista e submissa a personagens alienígenas, rambos e aranhas super-poderosas, que nos faz esquecer nossa própria identidade e nossa História, cheia de ricos fatos, personagens, mitos, gênios, lideres do povo, lutadores, guerreiros, estórias encantadas de nossos seres divinizados em nossa espiritualidade de raíz afro-brasileira...
No meio disso tudo, viva Besouro! que além de herói nacional, acaba por nos lembrar que um dos fundamentos de qualquer arte profunda é se util a alguma causa, nesse caso, a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a dignidade de nosso povo, nossos mitos e nossa descendencia negra!
Viva Besouro! Viva Zumbi! Viva o negro brasileiro, fundador de nossa cultura popular!
Ah, sem esquecer jamais: Viva a Capoeira, que até hoje nos liberta e ainda ajuda a libertar irmãos do mundo inteiro!!!!
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